quarta-feira, 4 de junho de 2008

Afinal o que faz um bioquímico?..

"É quase certo que todos os Bioquímicos, em algum momento da sua vida, já tiveram de responder a esta questão, colocada quer pela família, quer pelos amigos, quer pelos próprios empregadores.

Na realidade, a profissão de Bioquímico ainda não se encontra definida, não estando sequer disponível na actual lista de profissões do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Isto significa que um Bioquímico desempregado e inscrito no seu centro de emprego não pode procurar na Internet anúncios que se enquadrem na profissão de Bioquímico, uma vez que essa possibilidade não lhe é dada. Em vez disso, terá de procurar anúncios relativos às profissões de biólogo, químico, patologista, entre outras, ou seja, terá de se incluir numa profissão onde pense ser possível encontrar um anúncio para o qual um Bioquímico é qualificado.

Perante este cenário, é bastante natural que possíveis empregadores tenham dificuldade em reconhecer a formação em Bioquímica e as reais competências de um Bioquímico. Embora a comunidade científica tenha evoluído no sentido de reconhecer e enaltecer a formação de um Bioquímico, a licenciatura continua a ser uma incógnita para muitos outros sectores da sociedade, ditos “mais clássicos”, onde uma pessoa licenciada em Bioquímica pode exercer funções.

Através de uma rápida pesquisa sobre listas de profissões, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística e pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional em anos anteriores, foi possível descobrir que até ao ano de 2006 a categoria de Bioquímico aparecia nestas listas. O grupo de “especialistas das profissões intelectuais e científicas” incluía um subgrupo de “especialistas das ciências da vida e profissionais da saúde”. Este subgrupo incluía, por sua vez, um grupo denominado farmacologistas, patologistas e outros especialistas das ciências da vida, onde se encontrava a categoria de Bioquímico. Segundo esta classificação, um Bioquímico seria alguém capaz de realizar, individualmente ou em equipa, pesquisas acerca de reacções químicas produzidas nos organismos vivos com o intuito de aperfeiçoar os conhecimentos científicos e com vista à aplicação na Indústria, na Medicina e noutros campos de actividade. Seria então alguém capaz de efectuar experiências, testes e análises para determinar a acção dos alimentos, medicamentos, soros, hormonas e outras substâncias sobre tecidos, processos vitais e outros organismos vivos; de purificar e sintetizar biomoléculas, tais como proteínas, vitaminas e enzimas; de estudar a química das funções do corpo e as transformações de energia na matéria viva; de estudar os métodos de purificação e de tratamento de águas; de realizar processos industriais no âmbito da modelação e/ou experimentação, afim de produzir, nomeadamente, alimentos em pó ou produtos farmacêuticos. No entanto, em 2007, a categoria de Bioquímico desapareceu destas listas de profissões.

A ANBIOQ já tentou criar junto das autoridades competentes a profissão de Bioquímico. Todavia, uma profissão só pode ser criada quando os que a exercem realizam alguma tarefa específica e não realizável por pessoas com outras profissões já existentes. O problema desta definição resulta, então, da dificuldade em encontrar algo que só um Bioquímico seja capaz de realizar.

A dificuldade na procura de uma função específica para o Bioquímico traduz também a perspectiva positiva da não existência da profissão de Bioquímico, defendida por alguns. Não existe uma função específica, nem exclusiva, para um Bioquímico porque a sua formação torna-o perfeitamente capaz de realizar inúmeras tarefas, que neste momento se encontram distribuídas por várias profissões. Sem falsas modéstias, todos os Bioquímicos reconhecem a sua capacidade de realizar de forma competente e assertiva muitas das funções que neste momento se encontram confinadas às profissões de Farmacêutico, Biólogo, Químico, Microbiologista, Analista, Técnico de Saúde, Professor, etc, etc, etc. Esta versatilidade do Bioquímico, que compromete a definição da respectiva profissão, pode e deverá ser um trunfo na entrada de Bioquímicos no mercado de trabalho. É neste contexto que a divulgação da Bioquímica e dos Bioquímicos, bem como das suas competências e qualificações, se torna tão urgente, junto das entidades empregadores e da população em geral."

Texto escrito por Ana Rita Fins / Sara Berguete publicado no site da Anbioq

2 comentários:

Rimi disse...

mas é bioquímica uma profissão?

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o problema existencialista que se propõe, e com boa razão de ser (quem ainda não se questionou: o que andam aqui a fazer os bioquímicos? >> atenção, estou no gozo), tem uma simples explicação.



Bioquímica não é uma posição, mas sim a forma de se estar. Isto é, mais que uma área cientifica independente, bioquímica é uma forma de pensar. 

Todos nos, biólogos, técnicos de saúde... Psudo-biologos psuso-quimicos ;) somos capaz de correr um westernblot, o técnico questiona-se: dará positivo ou negativo?; o biólogo questiona-se: será que tudo isto faz parte da mesma cascata celular?; o bioq pergunta-se: porque raio neste mundo e que este AA tem a forma que tem? E devido à sua forma será que...



Posso estar errado mas este e o meu parecer.
Também recomendo uma vista de olhos pelo livro: "for the love of enzymes" onde tal problema e relativamente discutido.

indignação disse...

concordo..
e já que falamos de livros, aconselho um muito bom para todos nós que andamos em investigação por este mundo fora: "Intuição" de Allegra Goodman
Obrigatório ler!!